Escrever para além do caos
Eu tenho lido muita não ficção. Muita. Mesmo. E, há algum tempo, conheci a obra da norte-americana Toni Morrison. E uma das coisas que mais me instigou a continuar a ler seus ensaios foram justamente as palavras que ela utilizava para descrever a relação entre o escritor e a política. Entre o escritor e a sociedade onde ele está inserido.
“Escritores que constroem significado diante do caos devem ser nutridos, protegidos.”
Minha mãe sempre me pergunta quais profissões seriam mantidas e quais profissões seriam descartadas caso alguma guerra acontecesse no nosso tempo. Essa questão sempre me comove porque penso em todos os escritores que foram e são perseguidos em casos sociais críticos. Fico comovida porque escrevo. Fico comovida porque nós escrevemos. E, de maneira assustadora, pergunto-me: somos nutridos e protegidos neste momento de puro caos?
“A vida e o trabalho de um escritor não são um presente para o gênero humano,
mas uma necessidade imprescindível.”
Quando olho para o mundo em minha volta, gosto de imaginar o que distintos escritores falariam sobre o que estou vendo. Penso como Morrison descreveria o frio que faz onde moro, ou talvez como Conceição Evaristo falaria sobre a sensação do frio em minha pele. E isso me mostra como é uma necessidade imprescindível ter modelos literários que fazem com que eu me sinta acolhida e, principalmente, compreendida. Sinto, então, a necessidade de honrá-las. Sinto a necessidade de não deixar que a minha escrita pare ou tire folga porque eu preciso manter viva a tradição da História que permeia tudo aquilo que acredito. Valores como verdade, beleza e amor são motivados pelos que dão sua alma àquilo que produzem; seja em pequenos cadernos com capas surradas, seja em computadores que já se encontram cansados de guardar tanta informação. É necessário que a escrita e o escritor se tornem uma necessidade à nossa humanidade.
“E os esforços para nos censurar, regular e aniquilar são sinais nítidos de que algo importante está em marcha.”
O momento que vivemos não poderia ser mais assustador. Acredito que não preciso delimitar os fatores que o tornam o que ele é. Mas entendemos que quando buscamos a verdade, seja pela ficção ou pela não ficção, estamos nos colocando na linha de frente do que defendemos. E, convenhamos, dizer a verdade dói. Dói em quem diz e dói em quem ouve. E sabemos como temos vivido sob redes de mentiras e desonestidade. Como, então, defender o que é justo? Como oferecer verdade ao que está corrompido? Escrevendo. Escrevendo a verdade. Lidando com a verdade. Gritando pela verdade em toda produção literária.
“Quão tenebrosa, irrespirável, insuportável se torna a existência
quando somos privados de obras de arte.”
Então, meu caro escritor, minha cara escritora, daqui para frente, lembrem-se de que vocês não escrevem por escrever, que não escrevem só para vocês. Vocês escrevem porque o mundo necessita. Vocês escrevem porque além do caos, há beleza. E essa beleza se faz em forma de arte. E nós, meus amigos, produzimos a beleza que transcende tempo e espaço. Nós escrevemos.
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