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Os corações que a poesia roubou

Atualizado: 30 de mar. de 2020

Basicamente, o meu!

Ok! Vamos começar pelo começo. Nos meus áureos tempos de faculdade, havia uma pergunta que rondava toda a turma: você prefere prosa ou poesia? E, a partir desta pergunta, os debates eram iniciados, laços eram criados e novos mundos começavam a existir.


Eu, recém-aprovada no vestibular nunca hesitei ao responder: prosa, é claro! Bom, mal sabia eu. Esta resposta foi permanente até o dia em que tive a minha primeira aula de literatura brasileira e comecei a ler os primeiros poemas... Tudo bem! No início era beeeeem cansativo ler sobre obras de catequização, mas seguindo em diante, conheci Gregório de Mattos, mais conhecido como Boca do Inferno. Por que este nome? Bem, eu vou deixar que você descubra sozinho! Mas, ali, eu me encantei com a métrica, as rimas, a genialidade que cercava cada verso e como os poemas tratavam das batalhas travadas em todo coração humano: dor, medo, amor, angústia, felicidade e, sobretudo, a fé.


A partir do recém-descoberto amor, eu fui explorar outros nomes presentes na poesia mundial. Em versos de amor, encontrei Neruda e Vinicius; nas vivências femininas, Rupi Kaur me mostrou que eu não estava sozinha. E que toa dor poderia ser superada; no âmago do coração feminino, Florbela Espanca me mostrou como amar demais nunca é demais; Conceição Evaristo e Paula Tavares me ajudaram a entender e amar a minha ancestralidade.


Por muito tempo, relutei a ler poemas, mas... por quê? Por que relutei se foram neles em que eu encontrei conforto e aconchego? Por que não me interessei mais cedo se foram nos poemas que comecei a me entender como um ser que pensa, ama e anseia?


Me ocorre, também, que a poesia já fazia parte da minha vida antes mesmo de conhecê-la: os salmos de Davi que me acompanharam desde o nascimento até aqui me firmaram no que tenho de mais precioso: a minha fé. Davi, um homem segundo o coração de Deus, descreve em seus salmos seus episódios de depressão, ansiedade, tristeza, mas também utilizou a sua própria poesia para falar do aconchego e da paz que provinha de sua fé.


Consegue entender por que a poesia rouba corações? Ela chega, de mansinho, às vezes pede licença e às vezes arromba a porta. Ela se senta ao teu lado e começa a sussurrar seus versos aos corações. Sejam eles aflitos ou jubilosos. Amargos ou apaixonados.


Há um poema de Florbela Espanca que diz assim:


Ai as almas dos poetas Não as entende ninguém; São almas de violetas Que são poetas também. Andam perdidas na vida, Como as estrelas no ar; Sentem o vento gemer Ouvem as rosas chorar! Só quem embala no peito Dores amargas e secretas É que em noites de luar Pode entender os poetas E eu que arrasto amarguras Que nunca arrastou ninguém Tenho alma pra sentir A dos poetas também!


Este poema me faz pensar que todos nós somos capazes de não apenas criar, mas de viver poesia. “Só quem em bala no peito / dores amargas e secretas / é que em noites de luar / pode entender os poetas”. Poderoso demais, certo? Todos nós (TODOS NÓS) temos dores amargas e secretas e somos capazes de entender as almas dos poetas porque assim nós somos: poetas. Cada qual com a sua visão, cada qual com suas vivências, mas todos nós, mesmo que por um pouco, somos poetas. E, assim sendo, é por isso que a poesia rouba corações.

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