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Fanfics: por que não?

Atualizado: 30 de mar. de 2020



Há alguns anos, creio que vocês se lembram, nós passamos por uma fase extraordinária, nova e excitante: a Twilight Fever. Quem não se recorda quando a falecida (RIP) revista Capricho definiu Crepúsculo como a nova saga Harry Potter (estavam tremendamente enganados) e causou um frenesi ensurdecedor nas adolescentes que estavam prontas para consumir os livros recém-lançados no Brasil? Bom, a Saga Crepúsculo veio, eu virei noites lendo o primeiro livro, ignorei o segundo, odiei Jacob Black no terceiro e me apaixonei por Edward Cullen, ainda mais, no quarto e último livro. Assim sendo, Crepúsculo passou a habitar as minhas tardes tediosas, antes gastas em lan houses ouvindo algum álbum pop.


O ano era 2008, eu tinha acabado de completar doze anos e nada poderia ser melhor do que aquilo. Mas esse consumo ainda não era o suficiente. Embarquei na busca por mais: mais romance adolescente, mais Edward Cullen, mais vampiros lindos e garotas sem-graça. Nessa busca incessante, encontrei exatamente o que eu precisava: uma nova história, escrita por alguém da mesma idade que eu, em que as personagens de Crepúsculo viviam em um mundo mais parecido com o meu. Aí, meus amigos, eu encontrei a minha mina de ouro: o universo das fanfics.

Lembro-me até hoje de quando comecei a ler a minha fanfic favorita. Nas tardes livres após a escola, eu e minha amiga de infância, Paola (hoje uma perfeita enfermeira), buscávamos algo que nos atraísse e nos seduzisse assim como os vampiros Cullen fizeram há tempos. No “país Fanfiction”, embarcamos na deliciosa aventura de encontrar a história perfeita, dos nossos vampiros favoritos, em um ambiente cada vez mais comum a nós. Ali, encontramos “Bella Problema x Edward Solução”. Ok. Este é o momento em que você para, respira, suspira e pensa “não acredito que ainda há a doce lembrança desta obra-prima”. A premissa da história era a aventura de um casal, já com filhos, que resolveu se casar e juntar toda a sua trupe em uma única casa. Obviamente, precisávamos de algo que nos instigasse, nos fizesse desejar com mais afinco saber o que aconteceria ali. Bom, não me recordo o nome da autora, mas ela nos deu aquilo que almejávamos: Bella e Edward como inimigos mortais que se apaixonaram depois de muitas farpas trocadas e muita confusão familiar.


“Bella Problema x Edward Solução” me abriu caminhos para um dos meus maiores hobbies: ler fanfics. Não considero esse hábito como algo bobo ou de menor importância, mas sim como uma forma de imaginar e compreender àquelas personagens como pessoas que poderiam habitar o mesmo universo que eu e viver situações mundanas como qualquer um de nós. E, então, me pergunto: por que não investir parte de nossa leitura diária em fanfics? Eu, por exemplo, sou adepta da famosa tag “x reader” porque eu tenho essa necessidade de me permitir viver grandes histórias de amor (pelo menos nas fanfics) com os homens hollywoodianos que acho lindos e que penso que dariam uma ótima história a esta que vos fala.

Muito se fala sobre fanfics serem leituras desnecessárias, mas precisamos reconhecer que grandes obras e muitos best-sellers surgiram, especificamente, a partir de fanfics: Anna Todd foi atrevida em criar “After” (um universo onde Harry Styles apostava a virgindade de uma garota). Essa obra acabou sendo motivo de um contrato gigantesco em Hollywood; E. L. James foi a sagaz criadora de Cinquenta Tons de Cinza que, pasmem, era uma fanfic de Crepúsculo e, hoje é uma das maiores bilheterias do cinema mundial. Afinal, qualquer semelhança com o ar sedutor do nosso vampiro queridinho é mera coincidência, certo?

Então, por que não fanfics? Por que negligenciar ou julgar aqueles que se dedicam à arte de contextualizar personagens bem estruturadas a realidades alternativas? Por que não podemos apenas ser pessoas que curtem encontrar suas personagens favoritas em novas narrativas, com novas vivências e novas histórias de vida?


Muitas amigas sempre me confidenciaram que se sentiam acuadas em dizer que são ávidas leitoras de fanfics e eu sempre fiquei com aquela “pulguinha atrás da orelha” em entender o porquê. Estamos lendo, estamos adquirindo vocabulário, estamos escrevendo, mas acima de tudo, estamos fazendo aquilo que nos faz bem e que é prazeroso para nós. Precisamos entender que gosto é individual e que faz de nós pessoas únicas e cheias de nuances.


Gostaria de propor que hoje, você, leitor ou leitora de fanfic, desse a si o prazer de abrir o seu site ou aplicativo favorito e se deliciar com a sua fanfic especial, dona do seu coração. Não importa se é no formato de um conto, um romance, seja o que for, faça isso por você. Fanfics nos transportam para lugares inimagináveis, assim como os grandes romances da literatura. Nem só de romances russos viverá o homem, nem só de autores consagrados viverá o ávido leitor, mas de literatura que agrade e faça bem aos olhos, à mente e, principalmente, ao coração.


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