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Mulher: Roxane Gay

Atualizado: 30 de mar. de 2020


Roxane Gay, escritora de ficção e não-ficção e acadêmica, mais conhecida pelos livros Difficult Women, Bad Feminist e Hunger, exala toda a magia que sempre busquei encontrar em uma literata.


Negra, imigrante e de família católica, Roxane Gay foi a protagonista de uma infância difícil após ser vítima —aos 12 anos— de estupro conjunto e, consequentemente, vítima de bullying após sua história vir a público através de seus agressores.


A escritora teve uma adolescência complicada por causa do medo que sentia de relatar o estupro aos pais, rígidos católicos. Em consequência das complicações emocionais e psicológicas, Gay encontrou refúgio e consolação na comida, desenvolvendo compulsão alimentar. Roxane relata, no seu livro Hunger, que se tornou maior para sua própria segurança. Roxane lutou muitos anos até aceitar seu corpo, seu passado e sua vida. Liderou de maneira corajosa sua virada visando mudar completamente como se via e como via a vida ao seu redor.


Desta maneira, Roxane faz com que seja muito fácil se identificar com a sua escrita porque suas experiências e vivências são ao mesmo tempo comuns e extraordinárias. Na minha atual leitura, Bad Feminist: Essays, não tenho conseguido pensar em outra coisa além das palavras de Roxane. O livro tem este nome porque Roxane declara-se como feminista, mas assume todos os seus erros e suas falhas como uma mulher normal que não consegue viver o feminismo (ideal) plenamente.

Com sua escrita objetiva e direta, Roxane Gay atinge os pontos mais fracos e expostos de nossas vivências: privilégios, militância, defeitos que escondemos, ou qualquer outro aspecto teu, porque ela conseguirá te atingir de qualquer forma. No seu ensaio “Peculiar Benefits”, Gay declara que “ter privilégios em uma área ou outra não significa que você é completamente privilegiado. Render-se à aceitação do privilégio é difícil, mas isso é tudo o que se é esperado. O que eu me recordo, constantemente, é isso: saber que tenho privilégios não é a negação das maneiras em que sou marginalizada, das maneiras que sofri.”


Este é o ensaio que mais me confronta porque sou uma mulher negra (opressão dupla), mas ao mesmo tempo sou formada em uma ótima faculdade, moro em um bairro de fácil acesso em uma cidade segura, não precisei trabalhar para pagar os meus estudos e, em quarentena, posso trabalhar no conforto da minha casa. O que Roxane me diz (porque somos íntimas agora) é que eu preciso estar ciente que sou um alvo fácil, mas também preciso reconhecer meus privilégios e, junto disso, utilizá-los para dar voz àqueles que foram silenciados.


Roxane Gay utilizou suas dores e suas alegrias com sagacidade, humor e muita objetividade para explorar temas do cotidiano que muitas vezes passam despercebidos por nós. Roxane utiliza com muita classe e maestria o pior e o melhor de todos nós para que, desta maneira, possamos reconhecer e aceitar quem somos e o que fazemos. Somos más feministas, más militantes, más pessoas. Não vivemos com plenitude tudo aquilo que nos propomos, mas tentamos o nosso melhor. Com muito estilo.

“When writer Roxane Gay dubbed herself a "bad feminist," she was making a joke, acknowledging that she couldn't possibly live up to the demands for perfection of the feminist movement. But she's realized that the joke rang hollow. In a thoughtful and provocative talk, she asks us to embrace all flavors of feminism — and make the small choices that, en masse, might lead to actual change.”


Tradução: "Quando a escritora Roxane Gay apelidou a si mesma de "feminista ruim", ela estava fazendo uma piada, reconhecendo que não poderia atender às exigências para a perfeição do movimento feminista. Mas ela percebeu que a piada não parecia ser sincera. Em uma palestra refletida e provocante, ela nos pede para aceitarmos todos os sabores do feminismo, e fazer as pequenas escolhas que, num todo, podem levar à mudança real."




Links para quem quer saber mais sobre a autora:



Essa coluna faz parte da série Março: mulheres. Para ver as outras mulheres da literatura que forma homenageadas, acesse:



A homenagem é feita, primeiramente, no Instagram do Coletivo (@we.coletivoeditorial).

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