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Foto do escritorGabriela Leite

O desconforto da zona de conforto

Autores devem ser honestos. Acima de tudo, devem ser honestos consigo. E, sendo honesta, preciso abrir meu coração hoje: sofro do Perigo Monotemático da Escrita. Você conhece esse termo? Não? Pois bem, acabei de inventá-lo.



Você, que já tem me acompanhado por aqui, sabe que eu amo e sou apaixonada por escrever sobre… escrever; o processo, as fontes de inspiração e o que move a escrita. Entretanto, tenho me sentido um tanto quanto presa nesse perigo que me ronda. Eu sei que devemos escrever sobre o que sabemos bem para que não haja equívocos no meio do caminho, mas me pergunto há quanto tempo eu tenho feito de tal tema a minha zona de conforto, o meu refúgio onde eu sei qual será o caminho trilhado do início ao fim. E, então, penso que a escrita deveria ser tudo, menos um lugar de conforto. A escrita conforta, mas também confronta. Manejá-la para que seja um lugar já conhecido é um crime, um pecado capital, uma blasfêmia aos deuses da escrita.


Enquanto eu lutava para decidir o que escrever, fui pega dançando entre os temas que já eram velhos amigos; muito simpáticos, mas que moravam aqui sem pagar o aluguel. Decidi ser honesta. Os envolvi no melhor abraço que poderia ter, agradeci pelas histórias e caminhos que traçamos juntos e me despedi como quem se despede de um amor que será eternamente lembrado. Como autora, me proponho a arriscar. A não ter medo do dom divino que me foi dado. Afinal, seria inaceitável reduzir tal virtude a algo ordinário e engessado.


Nestes tempos em que não temos mais certeza do amanhã, nós devemos arriscar. Arriscar, principalmente, em nossa maneira de transformar o mundo com nossas palavras. Nossa escrita deve proporcionar a mesma sensação de um primeiro beijo, deve possibilitar a mesma emoção do pôr do sol mais lindo que já vimos. Nossa escrita precisa nos proporcionar vida, movimento e frescor.


Caso você esteja na crise do Perigo Monotemático da Escrita, saiba que não está sozinho. Saiba que é normal, é recorrente, mas entenda que não é um lugar de permanência. Você precisa parar para balanço a fim de reconhecer que somos seres mutáveis e nosso ofício deve ser transformado, também.


Assuma riscos. Escreva algo que você nunca escreveu, escreva sobre algo que você não suporta, odeie o que você escreveu, mas use isso como meio de crescimento enquanto autor. Pegue esta arte e faça dela a coisa mais louca, selvagem e singular que você possa criar. Arrisque, arrisque e arrisque.

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